MERCADO & ECONOMIA – O BRASIL SERÁ OUTRO PAÍS APÓS AS ELEIÇÕES

07/10/2014
Fonte : Isto é Dinheiro
ECONOMIA MELHORA APÓS  AS  ELEIÇÕES

ECONOMIA MELHORA APÓS AS ELEIÇÕES

Nos últimos dez anos, a indústria brasileira de ônibus e caminhões viveu o mais pujante ciclo de vendas, faturamento e investimentos de sua história. Embaladas por grandes obras de infraestrutura, expansão do agronegócio e aumento da oferta de crédito, as montadoras instaladas no País nunca venderam tanto quanto nesse período. Novas marcas, como a holandesa DAF e a chinesa Foton, anunciaram a instalação de fábricas por aqui. Tudo ia bem, mas o cenário mudou.

A freada da economia neste ano atingiu em cheio o setor de veículos comerciais, que até agosto havia vendido 14% menos do que no mesmo período de 2013. No entanto, na avaliação do executivo Roberto Cortes, presidente da MAN  Latin America, dona da marca Volkswagen Caminhões no País, a queda é um problema pontual e, a partir de 2015, com a definição do cenário político brasileiro, será apenas uma imagem no retrovisor. “Os fundamentos da economia são os mesmos”, afirma Cortes. “Não há razão para que a retração se mantenha.” Acompanhe, a seguir, sua entrevista:
O que explica a queda no mercado de caminhões e ônibus?
ROBERTO CORTES – Infelizmente, o momento não é muito bom para a nossa indústria. Vivemos uma situação complicada, não por uma questão de fundamentos da economia. Os fundamentos são os mesmos. Não há razão para que a retração se mantenha. Eu diria que é mais por uma questão ligada às incertezas do consumidor, que está aguardando o melhor momento de comprar.
Mas a queda é resultado apenas do receio dos clientes?
CORTES – Sim, é isso que está acontecendo no Brasil. A verdade é que a indústria de caminhões, pelos números do Renavam, está 14% menor neste ano, em relação a 2013. Todos os meses de 2014 fecharam com quedas entre 15% e 20% na comparação com 2013, com exceção de um ou outro mês. Para o nosso negócio, é uma queda muito grande.
Está ruim para todas as montadoras no Brasil ou há quem esteja ganhando mercado?
CORTES – O problema é geral. Com muito trabalho e dedicação, estamos conseguindo manter nossa participação de mercado, que chega a 26,8%, e garantindo pelo décimo segundo ano consecutivo a liderança do mercado brasileiro de caminhões nos segmentos em que atuamos. Em ônibus, onde somos vice-líderes do mercado, houve uma queda de 18% neste ano, bem considerável. Mas mantivemos nossa fatia de 26,1% nesse mercado. Há dois anos, também vivemos uma situação complicada, em decorrência da introdução do Euro 5, que encareceu os produtos e afetou as vendas, mas também conseguimos preservar nossa posição.
E as exportações, como estão?
CORTES – As exportações da indústria estão caindo ainda mais. Neste ano, a retração é de mais de 23%. A principal razão disso é a forte redução das vendas para a Argentina, que é um país cuja economia está sendo afetada por motivos diferentes dos do Brasil. A dependência das exportações brasileiras em relação à Argentina ainda é muito grande.
Como recuperar as vendas em um ambiente de incertezas?
CORTES – Já estamos no fim de setembro, sem enxergar muitas mudanças no curto prazo. Outubro será um mês incerto, por conta das eleições. Só depois começaremos a entender o novo quadro político do País e quais serão os atores da vida econômica. Acredito que a propensão a investir começará a voltar depois dessa definição.  E, por isso, acredito que do ponto de vista da economia o Brasil será outro País após as eleições.
Principalmente se houver troca de presidente?
CORTES – As pessoas da área econômica que estão com a presidenta Dilma Rousseff são conhecidas por nós. A equipe econômica de Aécio Neves também confiamos muito. As necessidades do Brasil aí estão e serão analisadas com atenção por todos eles. Então, a expectativa como empresa é de que, independentemente do re­sultado das eleições, a confiança será restaurada e o País voltará a andar de uma forma satisfatória, da maneira que o Brasil merece.
Esse otimismo se baseia em quê?
CORTES – Seja qual for o governo eleito, esperamos que continue promovendo o Programa de Aceleração do Crescimento, o Minha Casa Minha Vida, as obras para a Olimpíada do Rio de Janeiro, o pré-sal, além de tantas outras obras. Tudo isso que está acontecendo, e continuará a acontecer, cria uma perspectiva fantástica de bons negócios. Além, é claro, da vocação para o agronegócio, que continua muito forte, apesar da recente queda nos preços das commodities. O campo gera oportunidades muito promissoras para o País.
Os investimentos estão acontecendo, mas sempre aquém do esperado…
CORTES – O próximo presidente, com certeza, tem na agenda a necessidade de investimento em infraestrutura. Pelos cálculos mais recentes do Ministério da Fazenda, quase R$ 1 trilhão será investido em infraestrutura nos próximos anos, desde obras em saneamento básico e telecomunicações até portos, aeroportos e rodovias. São investimentos mais do que necessários. Eles precisam acontecer.
Além da infraestrutura, há outras razões que podem ajudar o mercado a voltar a crescer?
CORTES – Mais cedo ou mais tarde, o governo terá de equacionar junto com o sistema financeiro a questão da renovação de frota de caminhões. A gente já teve os exemplos bem-sucedidos do Porto de Santos, do Estado do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, que lançaram programas de incentivo à renovação de frota. As iniciativas regionais são positivas, mas é preciso ter um plano nacional para reduzir de vez a idade avançada da frota de caminhões do País. A idade média é de 17 anos, o dobro do ideal. Essa necessidade de rejuvenescimento da frota também nos deixa otimistas em relação à demanda que vem por aí.
Uma eventual troca de governo ameaça a manutenção do Finame, a linha de financiamento mais barata para o setor?
CORTES – Não acredito que haverá mudanças no Finame, seja qual for o governo. Desde que me conheço por gente, o Finame é um instrumento importantíssimo para a economia e para o nosso setor. Já tivemos taxa de 3% ao ano. Hoje é o dobro. Minha aposta é de que essa faixa será mantida.
Com a queda nas vendas, os planos de ampliação da capacidade de produção serão alterados?
CORTES – Nosso foco é no longo prazo e não mudaremos nenhuma vírgula do nosso plano estratégico. Acabamos de ver que mesmo a Europa e os Estados Unidos vivem altos e baixos. Precisamos sempre estar preparados para os dois momentos. O fato é que sempre saímos fortalecidos de fases de dificuldades.
Os investimentos serão mantidos?
CORTES – Temos os investimentos que precisamos. Mesmo neste momento de dificuldade, estamos reafirmando nosso plano de investimentos no País, de US$ 1 bilhão, no período de 2012 a 2017. Mais da metade desses recursos ainda está por vir. Isso é prova de que confiamos no nosso potencial. Temos capacidade para voltar a crescer acima de dois dígitos ao ano. Foi nesse ritmo que crescemos nos últimos dez anos. É só a gente encontrar uma forma de repetir o que a gente obteve até aqui.
Por que investir em aumento de capacidade de produção, se as vendas estão caindo e há ociosidade em todas as fábricas?
CORTES – Porque o mercado não está parado. Uma hora atrás, recebi uma ligação confirmando o nosso maior contrato de vendas de ônibus neste ano e o segundo melhor de nossa história. Vendemos uma frota de 750 ônibus para seis empresas que operam o transporte público de Salvador. Os negócios foram fechados após um ano de testes dos clientes, com nossos veículos automatizados. A partir dessa venda, nos tornamos responsáveis por 90% da renovação da frota da cidade.
Se as vendas não se recuperarem depois das eleições, ao contrário do que o sr. espera, qual será o plano B?
CORTES – Não há plano B. Se a retração das vendas continuar, ficamos onde estamos. Temos um modelo de negócio muito eficiente e flexível. Das seis mil pessoas envolvidas na produção de nossos caminhões e ônibus, 2,5 mil são funcionários diretos da MAN. Os demais são fornecedores. Então, não haverá demissões ou qualquer outra medida mais drástica. É só aguardar esse período de baixa passar.
Em um cenário de turbulência, as marcas que oferecem preços mais baixos não tendem a ganhar mercado?
CORTES – A concorrência é ferrenha. Temos de arregaçar as mangas e trabalhar muito. Mas temos a vantagem de fazer parte de um grupo gigantesco, como a Volkswagen, com 600 mil funcionários, sendo 50 mil somente na área de desenvolvimento de produtos, e faturamento de € 200 bilhões. Nossa engenharia é fortíssima. Temos um parque fabril em Resende, no Rio de Janeiro, muito completo. É com esses números e essa estrutura que a gente encara os próximos anos, o que nos dá muita confiança. A MAN tem o objetivo de ser uma marca cada vez mais global, assim como a Volkswagen é em automóveis.
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