04/12/2012
Fonte: Valor Econômico
The Wall Street Journal – Um carro que soubesse que o motorista estava estressado ou passando mal poderia prevenir um acidente? Montadoras estão se esforçando para achar a resposta.
Uma série de grandes fabricantes de veículos está acelerando a pesquisa para equipar carros com sensores biométricos que monitorariam sinais vitais do motorista, incluindo frequência cardíaca, respiração e “condutância da pele” – a velha palma da mão suada. Quando inseridas nos computadores que controlam sistemas de segurança do veículo, as informações poderiam permitir que o carro reagisse melhor a eventuais desafios impostos pela via e pelo trânsito.
A iniciativa se dá em meio a grandes avanços em tecnologias móveis de monitoramento médico, bem como ao crescente interesse em atender às necessidades de uma população de motoristas cada vez mais velha e distraída.
Além disso, representa mais um passo no grande avanço do setor rumo a carros autodirigidos, um admirável mundo novo no qual computadores poderiam simplesmente eliminar a possibilidade de o motorista errar – seja devido à distração do celular ou à queda repentina da glicose no sangue.
A Lexus já tem modelos com câmeras internas, e certos veículos da Mercedes-Benz vêm com sensores na direção que detectam se a pessoa está sonolenta ao volante. O carro dispara um alerta sonoro ou faz piscar um ícone de uma xícara de café para sugerir que é hora de uma pausa.
Montadoras de luxo estão promovendo essas tecnologias contra acidentes como exemplo daquilo que diferencia um automóvel caro de modelos convencionais mais baratos. Batizado de Attention Assist, o sistema da Mercedes é um item padrão em uma série de modelos da montadora, desde o sedã Classe C, menor, aos modelos mais opulentos e de alta tecnologia, como o Classe S.
Paralelamente, montadoras e autoridades de segurança de veículos nos Estados Unidos estão trabalhando em sistemas de bordo capazes de detectar com segurança se a pessoa está embriagada demais para dirigir.
Se um perigo no caminho parecer iminente, os novos monitores fisiológicos poderiam acionar sistemas de segurança para frear o carro, desligar o rádio, impedir um celular de tocar ou tomar outras medidas. Alguns desses avanços podem estar em automóveis no prazo de três a cinco anos. Outros dependem da capacidade de pesquisadores de superar o desafio de projetar sensores ligados a sinais vitais que possam funcionar perfeitamente num veículo por até uma década.
A fabricante de carros esportivos Ferrari SpA já entrou com um pedido de patente que indica que a empresa está avaliando uma tecnologia que embutiria eletrodos sem fio no encosto de cabeça do assento do carro. Esses eletrodos monitorariam ondas do cérebro para determinar se o motorista está tenso por pilotar uma máquina que pode chegar a 320 quilômetros por hora. Dependendo do que o sensor detectar, o carro poderia tentar mitigar o risco para o motorista ao reduzir a potência do motor ou estabilizar automaticamente o veículo. É como declarou a Ferrari no pedido de patente: “Motoristas tendem a calcular mal – mais especificamente, a superestimar – a própria habilidade ao volante e, acima de tudo, seu estado psicofísico”.
Na Ford Motor Co., pesquisadores estão cogitando a integração de informações de monitores fisiológicos – como sensores de respiração no cinto de segurança e monitores cardíacos no volante – aos sistemas internos do carro.
O sistema da Ford, em fase de protótipo, pretende reduzir a distração ao combinar dados obtidos de sensores biométricos com informações do carro, incluindo velocidade, ângulo do volante e dados de sensores de radar ou câmeras usados para detecção de obstáculos em pontos cegos ou piloto automático. Todos os dados são processados por um software capaz de avaliar o nível geral de estresse do motorista. Se for alto, o sistema poderia automaticamente ativar uma função “Não perturbe” no celular do motorista.
Jeff Greenberg, um líder da área técnica no projeto de pesquisa da Ford, diz que o objetivo geral é minimizar a distração e o estresse do motorista. Talvez seja questão de manter a pessoa envolvida e alerta em um trajeto maçante para o trabalho, ou ajudá-la a manter o foco em momentos mais difíceis ao volante. Se um caminhão aparece no ponto cego do veículo numa confluência de uma pista de alta velocidade, seria melhor para o motorista que a campainha do celular estivesse desativada no momento, explica.
Greenberg diz que a tecnologia para desativar o celular poderia chegar às concessionárias “com relativa rapidez”. Já a integração de sensores biométricos, diz ele, “vai demorar mais”. A Ford classifica essas tecnologias como projetos de pesquisa que, em geral, ainda levarão de três a cinco anos para serem oferecidas ao consumidor.
Uma razão é que a tecnologia vem evoluindo mais depressa do que a capacidade de resolução de questões como privacidade médica e fiscalização. Assim como outras montadoras, a Ford não gosta da ideia de adicionar normas da Food and Drug Administration, a secretaria de vigilância sanitária americana, a uma já pesada carga de regulamentação.
Fabricantes de automóveis esperam que veículos com monitores médicos serão atraentes para uma população que, mesmo envelhecendo, quer continuar dirigindo.
“Se quisermos manter as pessoas em seus veículos, é fundamental criarmos sistemas integrados que as apoiem”, diz Bryan Reimer, pesquisador do AgeLab do Instituto Tecnológico de Massachusetts, especializado em inovações para a população mais velha. O laboratório trabalhou com a Toyota Motor Corp., a Ford e outras empresas para testar o uso de sensores biométricos, tanto para nortear o projeto de veículos e torná-los mais fáceis de operar como para conceber sistemas de bordo que ajudem o motorista a dirigir de forma mais segura.
Dick Myrick, de 63 anos, que mora no Estado de Massachusetts e é engenheiro elétrico aposentado, participou de experimentos do AgeLab de direção monitorada biometricamente. Ele diz que estaria interessado em um carro cuja tecnologia de segurança incluísse algo para monitorar seu estado – mas só se ele estivesse no controle do sistema. “Preciso saber que a função só será ativada quando eu quiser”, diz ele.
Para outros, a nova tecnologia não passa de mais uma coisa à qual teremos de estar atentos quando ao volante. É “outra distração” para o motorista, diz Gabrielle Lucci, 60 anos, uma aposentada no Estado de Michigan.
Dispositivos que recolhem dados sobre a condição física de um indivíduo estão diminuindo de preço e tamanho. Muitos são projetados para se conectar ao smartphone com a mesma tecnologia Bluetooth que conecta o celular ao carro. Isso abre um caminho para a conexão sem fio de aparelhos como monitores cardíacos ou de glicose ao painel multimídia do carro.
“O mesmo sensor que você está usando para as aventuras de fim de semana […] é o sensor que você pode dar à sua mãe” para monitorar a frequência cardíaca dela, diz Leslie Saxon, cardiologista que lidera o Center for Body Computing da Universidade do Sul da Califórnia. O projeto de Saxon formou recentemente uma parceria de pesquisa com a fabricante alemã de carros de luxo BMW AG.
Daniel Grein, designer da BMW, diz que a pesquisa com a USC poderia ajudar a determinar como conectar um monitor de glicose no sangue equipado com Bluetooth a futuros modelos da BMW. Em Munique, diz ele, engenheiros da BMW também estão tentando projetar um carro que pudesse parar automaticamente se o motorista tiver um infarto.
Saxon diz vislumbrar um futuro no qual monitores biométricos em um carro poderiam fornecer dados não só a sistemas de segurança a bordo de veículos, mas também a médicos e pacientes interessados em administrar melhor a saúde. “Meu carro me avisa quando precisa de algo”, diz Saxon, referindo-se aos alertas que o veículo dispara quando precisa de alguma manutenção. “Quero que o carro do paciente o avise quando ele tiver de tomar um remédio para a pressão.”
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