Fabricante de máquinas vira importador

A importação crescente de máquinas e equipamentos tem forçado vários produtores nacionais a mudar de ramo. A perda de competitividade diante dos bens de capital que entram no País a preços menores, beneficiados pelo real sobrevalorizado, levou várias empresas a parar com a fabricação e utilizar toda experiência e conhecimento do mercado para se dedicar à importação e comercialização de máquinas. Segundo José Velloso Dias Cardoso, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), vários associados se desligaram da entidade por este motivo.

Este processo ocorre nos segmentos de máquinas para a indústria de plásticos, máquinas operatrizes, componentes hidraulicos, eletrônicos e pneumáticos e de grandes máquinas especiais como retomadoras, empilhadeiras e descarregadoras de navios. Velloso não cita nomes de empresas mas confirma que “vários fabricantes de máquinas que perderam a competitividade por causa do câmbio, deixaram a entidade e passaram a ser importadores”.

O Brasil não produz todos os bens de capital seriados necessários para o seu parque produtivo. Tanto que a lista de ex-tarifários conta com 3.5 mil itens referentes a equipamentos que podem ser adquiridos no mercado externo com alíquota zero por falta de fornecedor local. O problema que afeta a indústria no momento é o da substituição direta das máquinas disponíveis no País por produtos importados.

Esta pressão não foi capaz de tirar o setor da rota de crescimento. Com a demanda aquecida, o setor deverá registrar uma expansão de 14% em 2008 e superar os R$ 60 bilhões de faturamento do ano passado. As projeções que preocupam Velloso são as que indicam que haverá um aumento de 70% na entrada de máquinas e equipamentos do exterior. “O câmbio afeta nosso crescimento”, declara.

Os dados da balança comercial setorial mostram que o déficit de 2008 deverá ficar entre US$ 12 e US$ 14 bilhões, superando o resultado negativo de 2007 (US$ 4 bilhões) e o de 2006 (US$ 600 milhões). Esta estimativa se apóia nos valores acumulados no primeiro trimestre deste ano, cuja soma fechou em US$ 3 bilhões. Os países de origem da maioria das máquinas importadas são os Estados Unidos, Alemanha e China. O avanço mais significativo vem dos chineses que estavam na 15ª posição do ranking de fornecedores estrangeiros e passaram para o 3º posto. “O mercado de extrusoras para plástico é dos chineses hoje. Eles detêm 90% deste mercado, antes era zero”, afirma.

Velloso comenta que um megaprojeto como o da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) realizado no Rio de Janeiro, tem quase a totalidade de seus equipamentos vindos da China. As exceções são as máquinas utilizadas no pátio de movimentação de materiais e algumas partes menores da usina. O grupo MMX também está substituindo um fornecedor de bombas brasileiro por uma indústria da chinesa. O principal motivo é o preço que chega a ser 35% mais baixo e representa um fator determinante para a perda de espaço dos fabricantes nacionais.

“Estamos também com problemas com o aço e rolamentos”, diz Velloso. As dificuldades com rolamentos se referem à escassez mundial deste tipo de componente. A questão do aço, segundo o vice-presidente da Abimaq, deve-se à forma como o insumo é tratado no Brasil. A indústria de máquinas e equipamentos não é afetada pela exportação de aço em placas nem pelo custo do produto laminado, utilizado pelas montadoras de veículos e de eletrodomésticos de linha branca.

Os aços especiais, de alta liga, forjados e trefilados ficam mais caros pelo processo de construção dos preços. “O preço do aço no Brasil é o praticado no mundo, mais 14% de alíquota de importação e 15% de custo de compra do produto”, diz Velloso. “Apesar de ter uma indústria local, estamos condenados a pagar 30% mais caro no Brasil”. Os preços finais do insumo ficam 30% acima do aço europeu e entre 50% e 60% maiores em relação ao da China, informa.

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