MERCADO – Veículo velho afeta transporte rodoviário

01/08/2013
Fonte: Valor Econômico

Embora o Brasil conviva com a predominância do modal rodoviário na matriz de transporte, que passa dos 60% do total da movimentação de carga, os equipamentos utilizados para dar suporte a ele são inadequados, tendo como principal problema a idade avançada. Os caminhões brasileiros têm, na média, 16 anos de uso, o dobro do que é considerado ideal por especialistas. A média aumenta para entre 21 e 22 anos em mais de 60% da frota de veículos comerciais, operados por profissionais autônomos. No detalhamento dos cálculos para chegar à média, observa-se que o Brasil convive, atualmente, com 185 mil caminhões com mais de 30 anos. “Caminhão velho gasta mais combustível, gera mais custo com peças e manutenção, fatura menos e, portanto, tem menor produtividade”, diz Lauro Valdívia Neto, diretor da RLV, consultoria especializada em transporte rodoviário.

O estudo “Caminhoneiros no Brasil”, feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), como parte do Programa Despoluir, calcula que um caminhão com mais de 17 anos roda 24% a menos em relação aos mais novos. Da mesma forma, o faturamento dos antigos é 30% menor em relação a um veículo com um ano de uso. “Na operação urbana, os problemas gerados pela idade da frota são as quebras nas ruas, gerando congestionamentos, e as emissões veiculares”, diz Valdívia Neto.

 Ele lembra os transtornos que um caminhão quebrado acarreta em vias de fluxo intenso de veículos, como as marginais da cidade de São Paulo. “Os impactos para a produtividade da atividade são enormes, com atrasos de entrega, reorganização de cronogramas, perda de receita”, diz. Além disso, há o custo social, resultado do trânsito e da poluição, e, ainda, do aumento do número de acidentes, uma vez que não raras vezes os problemas mecânicos dos caminhões velhos têm relação direta com as ocorrências.

“A retirada dos caminhões obsoletos e em más condições de uso e circulação é necessária para reduzir a poluição e também os acidentes de trânsito, que trazem custos humanos e financeiros, para as pessoas e para o país, refletidos nos sistemas previdenciários e de saúde”, diz Bruno Batista, diretor-executivo da CNT. Para ele, a idade avançada da frota rodoviária é um problema social e como tal deve ser tratada. Ele cita casos de países como Espanha, Argentina e México que há anos implementaram programas de retirada de veículos antigos das ruas. Na Espanha, a união entre fabricantes de veículos, poder público e também operadores viabilizou, a partir do ano 2000, um programa para reciclagem dos veículos velhos.

Um certificado de despoluição, emitido por órgãos recicladores, foi o pré-requisito para aquisição de um novo veículo em condições vantajosas. Além de atingir a meta de reciclagem, a economia espanhola viu nascer um negócio altamente lucrativo com o mercado de tratamento de veículos.

A experiência argentina mostrou que o primeiro passo para a criação de uma política de reciclagem é acabar com a informalidade ao elaborar leis e intensificar o controle do Estado nas diversas fases do processo de renovação de frota e sucateamento. A motivação principal da Argentina foi reduzir o roubo de carros. A partir de legislação específica, criada em 2003, o governo conseguiu não apenas a redução de 17% do volume de carros roubados, mas também descobriu, como na Espanha, que a reciclagem dá lucro.

Segundo o diretor-executivo da CNT, é necessário que haja celeridade no processo de implementação de medidas de reciclagem e renovação da frota. “É imprescindível o apoio do poder público, para levar todos os agentes envolvidos a decisões convergentes”, diz. Ele afirma que os trabalhos da CNT para implementação de planos de reciclagem e renovação da frota vêm sendo desenvolvidos desde 2009. “Temos contribuído com estudos, negociação com os atores envolvidos, mas falta a adesão dos órgãos institucionais”, finaliza.

Gostou? Indique:

Comente

Comentários

Powered by Facebook Comments