LOGÍSTICA – Hidrovia Tietê-Paraná será reaberta após dois anos fechada pela seca

27/01/2016
Fonte – Folha de São Paulo

TIETE-PARANAApós 20 meses interditada devido à seca, a hidrovia Tietê-Paraná, uma das principais vias de exportação do país, será reaberta para navegação nesta quarta-feira (27), pela Marinha, graças às chuvas das últimas semanas. A interdição, feita em maio de 2014 pelo órgão, causou prejuízos de ao menos R$ 1 bilhão às empresas de navegação e tirou o emprego de cerca de 1.600 pessoas, além de afetar o transporte entre os usuários desse tipo de via.

Mas o que era para ser motivo de comemoração entre as empresas de navegação ainda causa preocupação, pois não há garantias de que a hidrovia estará imune a um novo rebaixamento de água. O problema é que a mesma água usada na navegação é demandada para a geração de energia. Nos últimos meses, a prioridade foi usar o recurso nas hidrelétricas, em detrimento da hidrovia.

“Enquanto não tivermos a real garantia de que o nível da água não será mais reduzido, não vamos nos sentir seguros para investir de novo”, diz Edson Palmesan, presidente do sindicato dos armadores do Estado de SP. O transporte por hidrovia é uma das opções mais baratas para a logística: o custo costuma ser um quarto do valor do transporte rodoviário, para onde muitas empresas, sem a estrutura do modal ferroviário, tiveram que migrar.

O modal, que em 2013 transportou 6,2 milhões de toneladas em grãos (soja e milho, principalmente), celulose, madeira e cana, teve queda de 26,2% no volume transportado em 2014 e parou totalmente em 2015. Segundo dados do setor, cerca de R$ 10 bilhões em produtos são transportados por ano pela hidrovia, que possui 2.400 km e atende SP, MG, MT, MS, PR e GO.

A suspensão da navegação foi tomada por causa do baixo calado (profundidade segura para a navegação) e do excesso de pedras no reservatório de Três Irmãos, entre o km 99,5 e a eclusa de Nova Avanhandava, no sentido SP. No momento mais crítico, em 4 de fevereiro de 2015, o reservatório de Três Irmãos atingiu o nível de 318,85 m. Para a retomada da navegação, é preciso o nível mínimo de 325,40 m. Na última semana, ele chegou a 326,40 m.

Segurança
Dono da DNP Indústria e Navegação, Nelson Michielin afirma que empresas como a Cargill e a Caramuru, que comercializam grãos pela hidrovia, já o procuraram para retomar o transporte hidroviário. Ele afirma, porém, estar receoso com o processo, principalmente com a falta de garantias para a navegação sustentável. “Não dá para investir por três meses e depois parar tudo novamente por falta de água”, diz o empresário.

Sua capacidade de transporte é de 3 milhões de toneladas por ano. Devido à suspensão de 2015, demitiu cerca de 800 trabalhadores, metade do total calculado pelo sindicato dos trabalhadores em transporte fluvial de SP. As embarcações estão paradas no rio Tietê, em Barra Bonita, e o prejuízo passou de R$ 80 milhões, diz ele. Michielin afirma que precisa fazer a manutenção das embarcações e que só deverá retomar a navegação em março.

Gigante do agronegócio e apontada como segunda maior usuária da hidrovia, a Louis Dreyfus Commodities já planeja a retomada do transporte pelo rio. Espera movimentar pela via 70% de toda a sua produção. Em nota, a companhia disse ainda que pretende recontratar os antigos colaboradores. “Estamos em contato com eles. A hidrovia é um importante modal para o transporte de soja e milho de Goiás e Mato Grosso”, informou.

Outro Lado

A Marinha do Brasil decidiu desinterditar a hidrovia Tietê-Paraná após a divulgação do nível no reservatório de Três Irmãos feita pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e o Departamento Hidroviário de São Paulo. Na última semana, o nível no reservatório atingiu 326,40 m acima do nível mínimo necessário para a retomada da navegação, que é de 325,40 m. Já o calado (profundida segura) mínimo para a navegação deve ser de 2,70 m.

Em nota, a Marinha informa que, diante da iminente desinterdição, convocou uma reunião com o setor e abordou temas como a segurança da navegação, a prevenção da vida e a poluição hídrica. Já a ANA (Agência Nacional de Águas) afirma que espera até abril a CTG (China Three Gorges), empresa que ganhou a concessão para operar as hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá na hidrovia, pedir outorga operacional.

Por meio dessa licença, de acordo com a nota da agência, poderão ser garantidas as condições de operação das usinas hidrelétricas que atendam a todos os usos da bacia, inclusive a navegação, com regras claras para períodos de poucas chuvas. O ONS, por sua vez, informa em nota que a operação de Ilha Solteira com fins energéticos é fundamental para a segurança do abastecimento elétrico nacional, e que espera o retorno da navegação de forma sustentável em breve.

O secretário de Logística e Transportes de SP, Duarte Nogueira, diz que publicará em fevereiro uma licitação de R$ 287 milhões para obras de retirada das pedras no reservatório de Três Irmãos. Com isso, a navegação poderá ser liberada com o nível em 323 m. A obra será feita no prazo de 29 meses, considerando os períodos de reprodução dos peixes. Serão retirados dois metros de pedra do subterrâneo.

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