CAMINHÕES COM SOJA E MILHO LIDERAM ACIDENTES NAS ESTRADAS

15/04/2015
Fonte: Folha de S.Paulo

Safra estocada  derruba vendas  de caminhões

Os caminhões que transportam grãos se acidentam quase três vezes mais que a média dos veículos de carga nas estradas do país.

Para cada 10 mil viagens, os caminhões com soja, milho e outros produtos do agronegócio têm 12,1 acidentes. A média do restante das outras cargas é de 4,6 acidentes.
Os dados são da Pancary, empresa gerenciadora de risco em transporte, que analisa mais de 1,6 milhão de viagens de caminhão por ano no país, de 4.000 diferentes empresas. O trabalho de uma gerenciadora é avaliar para as seguradoras os riscos do transporte de uma carga para balizar o valor do seguro, que é obrigatório.
Cada acidente grave que ocorre com os caminhões segurados é analisado. Para a empresa, a fadiga dos motoristas e excesso de velocidade são os responsáveis praticamente pela totalidade de sinistros graves nesse setor.
Os acidentes com caminhões causam prejuízos estimados em R$ 10 bilhões ao ano, segundo um estudo do Ipea. São cerca de 100 mil acidentes com caminhões por ano e a impressionante estatística de quase 11 motoristas de caminhão mortos por dia.
Os dados da Pancary apontam que o alto índice de acidentes no transporte de grãos é puxado pela contratação de motoristas autônomos, responsáveis por transportar cerca de 80% desse tipo de carga. Esses motoristas ganham por cada jornada.
A carga também pode ser levada por uma transportadora, empresa de maior porte que contrata motoristas, ou por companhias que têm sua própria frota.
No agronegócio, os carregamentos e descarregamentos chegam a durar mais de 10 horas. Com isso, os caminhoneiros autônomos tentando recuperar o tempo dirigindo mais horas e mais rápido.
“É natural que o autônomo vá correr atrás de buscar mais por produtividade. Mas isso custa acidentes e vidas, geralmente as deles mesmos”, disse Artur Luiz Souza Santos, vice-presidente da Pancary, lembrando que é comum o uso de drogas para que eles fiquem acordados por mais tempo.
Dácio Sentoducato, diretor de gerenciamento de risco da empresa, aponta que os caminhões de autônomos têm em média o dobro da idade dos caminhões de empresas (22 anos contra 9 anos). Segundo ele, usando velocidades incompatíveis com as estradas e com equipamentos antigos, os acidentes são uma consequência quase natural.
O valor do frete, em geral, não contabiliza esse tempo de espera para o carregamento e descarregamento e, por isso, é insuficiente para que os caminhoneiros paguem seus custos. Por isso, eles acabam fazendo jornadas mais extenuantes.
Pablo Aguerre, diretor operacional da AngelLira, empresa do mesmo setor que monitora 2,4 milhões de viagens/ano, diz que já identificou jornadas de 16 horas de caminhoneiros.
Segundo ele, mesmo respondendo por mais acidentes e gerando prejuízos maiores, os autônomos acabam sendo contratados devido ao baixo custo de contratação. Mas, segundo ele, a tendência no setor é começar a migrar para empresas maiores devido ao custo com as perdas do acidente.
“O custo dos riscos ainda é ignorado por quem contrata autônomos”, disse Ablo Aguerre.
NOVA LEI
A mudanças na lei dos caminhoneiros, em 2012, e em outras legislações para reprimir a atuação de atravessadores de frete prometiam uma vida melhor para os trabalhadores. Mas, na prática, elas não vingaram.
A grande maioria dos autônomos ainda é explorada pela chamada carta-frete, que segundo os dados da Pancary faz com que eles percam 30% do que recebem com o pagamento de taxas de transação e ágio. Essa forma de pagamento obriga o caminhoneiro a comprar produtos, como diesel, pneus e outros bens, somente onde a carta-frete é aceita.
Em alguns postos, a bomba de diesel para quem usa carta-frete tem um valor mais alto do que o cobrado de quem paga com outros meios. Isso acaba ajudando também na sonegação de impostos sobre o frete, já que os valores declarados ficam abaixo do efetivamente pago.
Essas intermediações entre autônomos e as empresas que têm carga estão sendo avaliadas dentro do governo como o principal vilão do sistema de transporte e há planos para regular esse setor.
Um exemplo de que há distorções está na tabela de frete mínimo que foi aprovada na semana passada em acordo entre caminhoneiros e embarcadores. Os valores propostos são praticamente iguais aos que estão sendo pagos pelo mercado atualmente. O problema é que os caminhoneiros não conseguem receber esse valor por causa da intermediação.
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