Obras voltam à estaca zero com crise no governo federal

07 /07/2011

Fonte : O tempo – MG

A crise que culminou com a demissão, ontem, do ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, após as denúncias de superfaturamento de obras e cobrança de propina, terá uma consequência direta na vida dos motoristas mineiros que há tempos aguardam por obras importantes em rodovias federais.
Com a suspensão de todos os editais de licitação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) anunciada anteontem, antes mesmo da saída oficial do ministro, pelo menos 31 intervenções em Minas voltaram à estaca zero.
Orçadas em cerca de R$ 3,5 bilhões, obras como a duplicação da BR-381 e de revitalização do Anel Rodoviário, aguardadas há anos, estavam previstas para serem lançadas ainda neste mês, mas vão continuar no papel. A espera pelo início da concorrência deve ser bem mais longa que o prazo de 30 dias anunciado pelo ex-ministro à véspera de deixar o cargo. Isso porque, segundo a assessoria do Ministério dos Transportes, parte dos editais deverá passar por um pente-fino. A auditoria, de acordo com o órgão, não descarta até mesmo a possibilidade de anulação completa dos processos.
“O sentimento é de indignação e impotência. É o fundo do poço. Quando estávamos mais próximos de ter as obras, acontece isso”, lamenta o presidente da ONG SOS Rodovias Federais, o especialista em trânsito e transportes José Aparecido Ribeiro.
Considerada a obra rodoviária mais urgente no Estado, a primeira etapa da duplicação do trecho de 110 km da BR-381, entre a capital e João Monlevade, está calculada em R$ 400 milhões. Só lá, em 2010, 111 pessoas morreram vítimas de acidentes, segundo números da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Foi com frustração que Wilson Vieira,42, recebeu a notícia de mais um adiamento do edital do Anel Rodoviário. Em março de 2009, ele se envolveu em um acidente e hoje vive em uma cadeira de rodas. “As obras poderiam evitar muitas tragédias como a minha. Lamento que mais uma vez elas sejam adiadas”.
Mobilização – Mineiros tentam evitar suspensão. Parlamentares da base de apoio ao governo federal estão se mobilizando para evitar a suspensão completa das obras do Dnit. A intenção é manter o cronograma original do lançamento dos editais de pelo menos três das obras: o Anel Rodoviário e as BRs 381 e 040. “Vamos trabalhar para que isso (suspensão) não aconteça. Minas não pode ser prejudicada em obras tão importantes”, disse o senador Clésio Andrade (PR-MG).
Leonardo Quintão (PMDB-MG) disse que irá acionar o partido para buscar soluções na Casa Civil. “As denúncias precisam ser apuradas, mas não podemos prejudicar o Estado. Esperamos essas obras há muitos anos”.
Para o deputado Jaime Martins (PR-MG), não há necessidade de o governo suspender o lançamento de editais que já estão prontos. “Temos de apurar as denúncias, mas, se está tudo certo com o projeto, não tem por que segurar”. (Telmo Fadul)
O que gerou a crise – Denúncia. A suspeita é a existência de um esquema de propina envolvendo o PR, partido do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, empreiteiras e empresas de consultoria em projetos de obras. Segundo reportagem da revista “Veja”, fornecedores estariam agindo com a garantia de sucesso nas licitações, além de serem beneficiados com superfaturamento de preços. O dinheiro seria dividido entre o PR e parlamentares dos Estados onde as obras eram feitas.
Afastamento. No último sábado, quatro integrantes do ministério foram afastados, entre eles o presidente da Valec Engenharia, José Francisco das Neves, o chefe de gabinete do ministério, Mauro Barbosa Silva, e o assessor Luís Tito Bonvini, além do diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que está de férias.
Suspensão – Ainda como ministro, Nascimento determinou, anteontem, a suspensão por 30 dias da publicação de editais de obras.
Demissão – Ontem, o ministro entregou a carta de demissão. A situação de Nascimento se complicou com a suspeita de enriquecimento ilícito de seu filho, o arquiteto Gustavo Pereira.

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